BLOG EM CONSTRUÇÃO!!!



OBRIGADO PELA VISITA.

VOLTE SEMPRE!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ciencia Politica

Política: A arte ou ciência de governar
Você sabia que quem não se interessa por política, acaba sendo governado por aqueles que se interessam? É isso mesmo. As decisões do governo de um país dizem respeito diretamente a todos aqueles que vivem ali. Delas dependem, por exemplo, o preço das coisas, a qualidade das escolas, dos hospitais e dos medicamentos, e até a possibilidade de acessar livremente a Internet - o que os chineses estão proibidos de fazer pelo governo comunista de Pequim
Levando em consideração o fato de a política interferir na vida de todos nós, é fácil concluir que não é conveniente para ninguém ser completamente ignorante em matéria de política. Para compreender bem a questão, entretanto, é necessário recorrer aos estudos históricos, pois as atividades políticas são tão antigas quanto a própria humanidade.
Um pouco de filosofia
A palavra política deriva do grego "politikós", adjetivo que significa tudo o que se refere à cidade (em grego, "pólis"). Mas o conceito de "pólis" é mais abrangente do que o nosso conceito de município. Na Grécia antiga, entre os séculos 8 e 6 a.C, surgiram as "pólis", que eram, ao mesmo tempo, a cidade e o território agropastoril em seus arredores, que formavam uma unidade administrativa autônoma e independente: uma cidade-Estado, quase como um país nos dias de hoje. Atenas e Esparta são as cidades-Estado mais famosas da Antiguidade grega.

De qualquer modo, inicialmente, a expressão política referia-se a tudo que é urbano, civil, público. O significado do termo, porém, expandiu-se graças à influência de uma obra do filósofo Aristóteles (384-322 a.C), intitulada Política. Nela, o filósofo desenvolveu o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado - ou seja, o conjunto das instituições que controlam e administram um país - e sobre as várias formas de governo.

Política, então, passou a designar a arte ou ciência do governo, isto é, a reflexão sobre essas questões, seja para descrevê-las com objetividade, seja para estabelecer as normas que devem orientá-la. Durante séculos, o termo passou a ser usado para designar obras dedicadas ao estudo das atividades humanas que de algum modo se refere ao Estado. Entretanto, nos dias de hoje, ele perdeu seu significado original, que foi gradativamente substituído por outras expressões, como "ciência política", "filosofia política", "ciência do Estado", "teoria do Estado", etc. Política passou a designar mais as atividades, as práticas relacionadas ao exercício do poder de Estado.
Política e poder
Entendido como forma de atividade ou de prática humana, o conceito de política, está estreitamente ligado ao conceito de poder. O filósofo britânico Bertrand Russell (1872-1970) define o poder como "o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados". Um desses meios é o domínio do ser humano sobre a natureza. Outro é o domínio de alguns homens sobre outros homens.

Neste último sentido, podemos ampliar o conceito de poder definindo-o como uma relação entre dois sujeitos, dos quais um impõe a sua própria vontade ao outro, determina-lhe a maneira de se comportar. O domínio sobre os homens, contudo, não é geralmente um fim em si mesmo. De acordo com Russell, trata-se de um meio para obter "alguma vantagem".

Está claro que o poder político pertence à categoria do poder do homem sobre o outro homem (e não sobre a natureza). Essa relação de poder pode ser expressa de mil maneiras, como a relação entre governantes e governados, entre soberanos e súditos, entre Estado e cidadãos, etc. Porém, é importante ressaltar que há várias formas de poder do homem sobre o homem e que o poder político é apenas uma delas.
Dinheiro, ciência e armas
É possível distinguir três grandes tipos de poder do homem sobre o homem. Para começar, há o poder econômico, exercido quando alguém se vale da posse de certos bens para levar aqueles que não os possuem a um certo tipo de comportamento, que, em geral, é a realização de algum tipo de trabalho. Evidentemente, esse é o poder que o patrão exerce sobre os seus empregados.

Mas há também o poder ideológico, o poder das ideias, do saber, do conhecimento, que permite o domínio sobre a natureza. Esse poder tem sido exercido pelos "sábios" ao longo da história. Nas sociedades primitivas, eram os sacerdotes. Nas sociedades contemporâneas, são os intelectuais ou cientistas. Pense, por exemplo, no poder que um médico pode exercer sobre o seu paciente, já que dispõe do conhecimento necessário para lhe devolver a saúde.

Finalmente, existe o poder político, que se baseia na posse dos instrumentos mediante os quais se exerce a força física (as armas e toda espécie de potência): é o poder de coação, no sentido mais estrito da palavra. Exemplo: se alguém desobedecer a uma determinada lei, o governo tem poder para ordenar a sua prisão por policiais. Em caso de resistência, os policiais têm até o direito de usar suas armas.
Poder político é o poder supremo
Por se tratar de um poder cujo meio específico é a força, o poder político é o poder supremo, ao qual os demais estão subordinados. Embora o uso da força seja o elemento que distingue o poder político dos demais, esse uso é uma condição necessária, mas não suficiente, para tornar a sua existência legítima. Não é qualquer grupo social em condições de usar a força - como os narcotraficantes, por exemplo - que exerce o poder político.

O poder político conta com a concordância de toda a sociedade para usar a força, para ter o seu monopólio, inclusive com o direito de incriminar e punir todos os atos de violência que não sejam executados por pessoas autorizadas.

Isso se torna mais claro quando se pensa na execução de alguém que cometeu um assassinato, nos países onde há pena de morte. Nesses lugares, o Estado tem o direito de tirar a vida de um cidadão para puni-lo por seu crime - embora esse direito seja cada vez mais questionado pela sociedade e pelos cientistas jurídicos.
Limites do poder político
Além da exclusividade do uso da força, ainda podem ser apontadas como características do poder político: a universalidade, ou seja, a capacidade de tomar decisões que valham para toda a coletividade, no que se refere à distribuição e destinação dos recursos (naturais, humanos e econômicos) no seu território; e a inclusividade, isto é, a possibilidade de intervir em todas as esferas de atividade do grupo e de encaminhar essa atividade ao fim desejado, por meio das leis, ou seja, as normas ou regras destinadas a todo o grupo.

Isso não quer dizer, todavia, que o poder político não tenha limites, mas estes variam de acordo com o tipo de Estado. O Estado socialista, por exemplo, estende seu poder à esfera econômica e planeja como a economia deve caminhar. Já o Estado liberal clássico (capitalista) não aceita a intervenção nessa área, deixando que a economia seja regulada por suas próprias necessidades e características peculiares.

No Estado totalitário, como as ditaduras, o poder político se intromete em qualquer campo da atividade humana. Entre 1922 e 1943, na Itália, a ditadura fascista de Benito Mussolini chegava a dar prêmios a casais que tivessem muitos filhos, pois estavam gerando cidadãos para servir ao Estado.
Objetivo da política
Por fim, é conveniente lembrar que até agora tratou-se dos meios da política. Mas ela também tem um objetivo, uma meta, uma finalidade. Uma finalidade mínima e básica, que é comum a toda e qualquer atividade política: a ordem pública nas relações internas do país e a defesa da integridade nacional nas relações exteriores, de um Estado com os outros Estados.

Esta é a finalidade mínima porque é a condição essencial para a obtenção de todos os demais fins (desenvolvimento econômico, segurança e saúde, educação, etc.) que, generalizando, devem garantir o bem-estar do povo. Até mesmo o partido que subverte a ordem não faz isso como um objetivo final, mas como fator necessário à mudança da ordem existente e a criação de uma nova ordem.
Estética
Arte traduz o espírito de renovação contínua
Josué Cândido da Silva*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Por mais bela que uma roupa seja, ela vai durar só até o fim da estação
Se existe algo de permanente na moda é o seu caráter efêmero, fugaz, transitório. Uma pessoa determinada a acompanhar a moda sabe que, inevitavelmente, por mais bela que uma roupa seja, ela "durará", no máximo, até o fim da estação.

Quanto mais fielmente um traje corresponder à última tendência da moda, mais ridículo ele parecerá aos olhos das novas gerações com o distanciar do tempo. É por isso que a moda talvez seja a representação mais fiel do espírito dos tempos modernos, caracterizados pela necessidade de renovação contínua, com os olhos sempre voltados para o futuro, para tudo o que é novidade.
Consumo
Karl Marx (1818-1883) viu nesse impulso permanente de inovação uma necessidade da nova sociedade burguesa em sua busca de ampliar ao máximo o consumo de mercadorias.

Diz Marx no "Manifesto Comunista": "A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. (...) Essa revolução contínua da produção, esse abalo constante de todo sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes (...). Tudo o que era sólido se desmancha no ar...".
Modernidade
Se tudo que é sólido se desmancha no ar, a modernidade não pode remeter-se a um passado que já não mais existe como fonte para os critérios que a orientam. Tampouco pode buscá-los na tradição que a precedeu e contra a qual se rebelou, não lhe restando alternativa senão extrair tais critérios de si própria.

O problema de uma fundamentação da modernidade a partir de si própria não passou despercebido pela crítica estética. Era preciso que a modernidade abandonasse qualquer referência à tradição que aprisionara a arte em padrões rígidos, como se os cânones do que caracteriza uma obra de arte fossem absolutos e impermeáveis às mudanças históricas.
Baudelaire

O poeta e crítico de arte Charles Baudelaire (1821-1867) propôs que a arte, em cada época, deve buscar sua própria forma, ao invés de imitar os padrões de épocas precedentes. A arte situa-se entre o eterno e o atual e pode ser considerada como filha legítima dos tempos atuais, pois "a modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável".

O talento do artista revela-se ao extrair o eterno do transitório, pois, de outra forma, o eterno não poderia ser apreendido, pelo seu caráter intangível. Como observa Baudelaire: "O belo é constituído por um elemento eterno, invariável, cuja qualidade é excessivamente difícil de determinar, e de um elemento relativo, circunstancial (...) sem esse segundo elemento, que é como a cobertura brilhante e atraente que abre o apetite para o divino manjar, o primeiro elemento seria indigerível, (...) para a natureza humana".

A beleza eterna desvela-se apenas no traje da época, daí a afinidade da arte com a moda, ambas buscam algo de eterno no atual e momentâneo, mesmo reconhecendo a impossibilidade de retê-lo. Toda arte, assim como toda moda, é inevitavelmente datada como o retrato de uma época.
Novas formas
O artista precisa mergulhar em seu tempo; não pode ficar preso às formas do passado sob o risco de ser considerado um mero imitador. Ele precisa experimentar novas formas que melhor traduzam a sensibilidade de seu tempo, o que o dispõe a correr o risco de não ser compreendido por seus contemporâneos.

As pessoas são educadas e compreendem mais facilmente o que já foi digerido pela crítica e consagrado pelos acadêmicos. Por isso, é mais fácil repetir fórmulas consagradas e se arriscar menos se quiser ter o sucesso garantido. Os filmes, as músicas, a literatura e a moda, voltadas para o grande público, preferem repetir fórmulas consagradas a promoverem uma revolução na estética.
Eternizar o belo do efêmero
O artista que não se conforma com repetir receitas de sucesso, que procura traduzir o eterno no atual, corre o risco de ser incompreendido, de ser considerado produtor de uma arte "marginal". Esse artista pode não encontrar o devido reconhecimento em seu próprio tempo.

Isso não quer dizer que a arte está destinada a ser incompreendida ou que se dirige a uma minoria. Mesmo a arte erudita pode ser uma repetição de fórmulas de sucesso diferenciando-se apenas pelo poder aquisitivo de seus consumidores. Nisso a arte diferencia-se da moda, já que no caso da moda, o sucesso não pode servir como critério para definir se uma obra é realmente boa ou não.

O artista pode se sentir inseguro por não ter parâmetros claros capazes de avaliar sua obra, já que toda obra de arte é justamente a reinvenção dos parâmetros tradicionais e o rompimento com as formas cristalizadas. Mas a insegurança, a falta de referências e o esfumaçar de tudo que é sólido são justamente características da modernidade. Cabe ao artista a tentativa de construir uma obra capaz de eternizar o belo volátil do efêmero que, como a moda, passa.
Dialética
Tese, antítese e síntese
Josué Cândido da Silva*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Para Heráclito o fogo é responsável por todas as transformações
Todos os dias acontecem milhares de coisas sem nenhuma ordem ou conexão aparente. Tudo o que podemos dizer é que o mundo parece uma grande bagunça. Mas será que mesmo essa bagunça não teria uma ordem, como o secreto ordenamento na desarrumação de nosso quarto?
Para Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), existe uma ordem no universo que nos cerca, mas tal ordem não é algo misterioso ou oculto e sim algo que pode ser percebido em nosso cotidiano. Como dizia Heráclito, "não se pode banhar-se duas vezes no mesmo rio porque nem as águas, nem você permanecem o mesmo". Tudo flui. Algumas coisas mudam mais depressa, outras mais devagar como o movimento dos continentes ou o discreto afastar-se da Lua, mas tudo está em constante mudança.

A mudança não é uma mera aparência, mas o modo de ser das coisas, o seu constante devir. Ou seja, ao invés de dizer que "isso é tal coisa" seria mais correto dizer que "isso está tal coisa", pois nada garante que no futuro permanecerá assim, o mesmo que foi assim no passado. Por isso, Heráclito não falou que tudo é água, terra ou ar, mas fogo: "Por fogo se trocam todas as coisas e fogo por todas, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro". O fogo é processo, através do fogo as coisas se transformam: água torna-se vapor, areia torna-se vidro. O fogo é o elemento dinâmico, a melhor representação da constante mudança da realidade.

Saber que a realidade está em constante mudança, entretanto, ainda não nos explica nem porque as coisas mudam, nem como elas mudam, ou seja, se existe algum princípio que regule a forma como as coisas mudam, do contrário, teríamos uma desordem crescente que nos deixaria cada vez mais perplexos e impediria qualquer ação no mundo.

Heráclito responde a ambas questões através da dialética. Para o filósofo de Éfeso, "o combate é de todas as coisas pai, de todas rei". As coisas mudam porque existe uma tensão de forças contrárias dentro delas, como o mel que é, a um só tempo, doce e amargo. É a tensão dos contrários no interior de cada coisa que põe tudo em movimento. Como o andar que nos desequilibra e recompõe o equilíbrio a cada passo.

Admirável é que a tensão entre os contrários não produz destruição das forças em conflito (como em uma guerra), mas harmonia: "o contrário é convergente e dos divergentes nasce a mais bela harmonia, e tudo segundo a discórdia". Mas como isso é possível? É possível se os contrários encontrarem um equilíbrio, como o arco e a lira: tensão demais e a corda se rompe, demasiado frouxo e não produz música. A música secreta da natureza está na harmonia dos contrários que emerge sob a forma de regularidade, como se houvesse uma lógica disciplinando o caos.

Atualmente vários cientistas defendem a idéia de um processo auto-organizador na natureza como uma ordem espontânea que emerge em fenômenos cotidianos como a fervura da água, por exemplo. A agitação da água durante a fervura não é mais do que uma forma de distribuir o calor igualmente por todo o recipiente. As teorias que explicam esse e outros fenômenos complexos, como a flutuação da bolsa de valores, é chamada de teoria do caos.

É difícil saber até que ponto as reflexões de Heráclito se aproximam dessa idéia, afinal, não sobraram muitos fragmentos que dão testemunho de sua filosofia. Mas não deixa de ser surpreendente sua idéia de que o conflito pode produzir transformação e dessa transformação emergir uma nova tensão em um devir permanente. E tudo isso produzindo novas formas de organização da natureza, das idéias e da sociedade. Tamanha a força de seu pensamento, que Heráclito chegou a influenciar filósofos que vieram mais de dois mil anos depois, como Hegel e Marx. "Não existe frase de Heráclito - confessa Hegel - que eu não tenha integrado em minha Lógica".
Fundamento da realidade
Qual o princípio de tudo?
Josué Cândido da Silva*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

Para o grego Aristóteles, o ser humano tem o desejo natural de saber
Diz o provérbio que as aparências enganam. Enganam justamente porque não nos contentamos só com o que aparece. Aristóteles dizia que o ser humano tem o desejo natural de saber. Quando algo aparece para nós através dos sentidos, queremos logo saber: Como é? Para que serve? Como funciona? Isso é assim desde que o homem é sapiens.

Nossa curiosidade se estendeu, inclusive, para outros limites. O homem está sempre se perguntando: Será que existe uma ordem por trás do que aparece? Será que o que aparece é uma mera ilusão que encobre uma verdade oculta?

Alguns povos encontraram uma resposta bastante convincente na religião. Várias mitologias falam de um passado imemorial, em que uma ou várias divindades teriam transformado o caos em um cosmos, que significa "ordem". De tal forma que, mesmo que muitas vezes as aparências digam o contrário, há uma ordem que rege todos os fenômenos do universo, como a sucessão do dia pela noite e as estações durante o ano.
Qual o princípio de tudo?
Com a ampliação do conhecimento em várias áreas - como a astronomia, a matemática, etc. -, os primeiros filósofos começaram a pensar se a razão humana não poderia ir um pouco mais longe na resposta à grande questão: qual o princípio de tudo o que existe?

Um dos primeiros filósofos a tentar dar uma resposta, sem fazer recurso aos deuses, foi Tales de Mileto (cerca de 625-558 a.C.), muito mais conhecido por seu teorema sobre a propriedade dos triângulos do que como filósofo. Na verdade, do que Tales pensou não sobrou muito além de alguns fragmentos. Ele inaugurou a filosofia ao afirmar que tudo é água. Frase que, hoje, pode soar estranha e até mesmo absurda, mas que marca a forma propriamente filosófica de pensar, que difere tanto da ciência quanto da religião.

Difere da ciência por não se preocupar em explicar fenômenos particulares, como o comportamento de estrelas binárias ou de que maneira o colesterol pode afetar nossa saúde. A filosofia trata do geral, do que está à vista de todo mundo, do que nos é comum.

Quando Tales diz que tudo é água, por exemplo, ele quer dizer que há algo de comum a tudo o que existe, uma unidade que pode ser encontrada em meio à diversidade que nos cerca. Tal resposta também o afasta da religião, por não buscar uma explicação para esse mundo fora dele. Ao atribuir à água a origem de tudo (não podemos esquecer que a vida começou na água), Tales questiona se, através de uma investigação racional e criteriosa, não poderíamos encontrar respostas para as grandes perguntas que nos cercam.
Sem dogmatismos
Outra característica importante da filosofia que se inaugura com Tales é sua capacidade de revisão e crítica interna, distanciando-se de posições rígidas ou dogmáticas, muitas vezes de origem mítica ou religiosa, que são impermeáveis às mudanças ou às críticas.

Anaximandro, um discípulo de Tales, considerava difícil aceitar a idéia de que um elemento como a água tivesse gerado todos os outros, pois o princípio teria que ser indestrutível e não-engendrado, do contrário, como tudo, estaria ele também sujeito à mudança e decomposição. A esse princípio, Anaximandro dá o nome de apeíron, que pode ser traduzido por infinito ou ilimitado.

Já Anaxímenes, também de Mileto, considerava que tudo teria se formado a partir do ar infinito, por um processo de rarefação e condensação. Empédocles de Agrigento achava que tudo era um composto de quatro elementos (fogo, terra, água e ar) em diferentes combinações, movidos por forças de repulsão (ódio) e atração (amor). Demócrito de Abdera achava que tudo era formado de partículas infinitamente pequenas e indivisíveis, as quais denominou de átomos (do grego, não-divisível).

De certa forma, as teorias desses filósofos, entre outros do mesmo período, aproximam-se em algum grau daquilo que hoje consideramos verdade científica. Independentemente disso, o mais importante é a forma como trataram a pergunta sobre o princípio comum de tudo e o encaminhamento da resposta que tentaram dar a ela.
O fundamento da realidade
Os primeiros filósofos, assim como os filósofos de hoje, estavam interessados não sobre a forma como conhecemos este ou aquele fato em particular, mas sobre como podemos conhecê-los em geral. Ou seja, se existem realmente fundamentos suficientemente firmes nos quais poderíamos edificar as bases de todos os nossos conhecimentos ou se nossos conhecimentos não passam de castelos de areia que mal resistem às vagas do ceticismo e do relativismo.

Para boa parte dos filósofos da Antigüidade Clássica, responder a essa questão equivaleria a responder sobre o fundamento da realidade, sem o qual nenhuma verdade poderia considerar-se suficientemente segura.
Conhece-te a ti mesmo
Sócrates e a nossa relação com o mundo
Josué Cândido da Silva*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
A figura de Sócrates é como um divisor de águas na Filosofia Antiga, tanto que os filósofos anteriores a ele são tradicionalmente chamados de pré-socráticos.

De fato, com Sócrates há uma mudança significativa no rumo das discussões filosóficas sobre a verdade e o conhecimento. Os primeiros filósofos estavam preocupados em encontrar o fundamento (arké) de todas as coisas. Sócrates, por sua vez, está mais interessado em nossa relação com os outros e com o mundo.

Curiosamente, Sócrates nada escreveu - e tudo o que sabemos dele é graças a seus discípulos, particularmente Platão. Sócrates teria tomado a inscrição da entrada do templo de Delfos como inspiração para construir sua filosofia: Conhece-te a ti mesmo.

Para compreendermos o sentido dessa frase, segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926 - 1984), devemos inscrevê-la em uma estratégia mais geral do cuidado de si.

Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos nos ocupar menos com as coisas (riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos. Poderia objetar-se: com que propósito deveria ocupar-me comigo mesmo? Porque é o caminho que me permite ter acesso à verdade. Mas que tipo de verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer, tal como a fórmula química da água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio ser de sujeito.

É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscendência, de que fala Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo.
Como ter acesso à verdade?
Tal modificação para ter acesso à verdade, contudo, não é um ato puramente intelectual. Ela exige, por vezes, determinadas renúncias e purificações, das quais Sócrates é um exemplo.

Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo, denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse.

A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense, razão pela qual seus inimigos o levaram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à morte. Sua morte, porém, não impediu que a questão do cuidado de si se tornasse um tema central na filosofia durante mais de mil anos - e chegasse a influenciar alguns filósofos modernos e contemporâneos.

A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser.

Dito de outro modo, o estado de iluminação, de descoberta da verdade, não é produto do estudo, mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e de como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência.
A difícil busca da verdade
Atualmente, estamos distantes dessa perspectiva socrática do cuidado de si. A ciência moderna está preocupada com a produção e acumulação de conhecimentos.

Mas quando nos perguntamos: para quê acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta é simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa corrida sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios prometidos.

Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente, estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função de contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos.

Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo.

Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas, pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.
Pensamento filosófico
Uma maneira de pensar o mundo
Antonio Carlos Olivieri*
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

O Pensador, de Rodin, é uma escultura que homenageia a filosofia
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também uma postura diante do mundo.

Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se voltar para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e seus métodos; pode pensar sobre a religião, a arte; o próprio homem, em sua vida cotidiana.

Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica. Há alguns anos, foi publicado no Brasil, um livro chamado "Os Simpsons e a Filosofia", que tratava das questões filosóficas implícitas no famoso desenho animado da TV.

Como o próprio Bart Simpson, a filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida.
Uma disciplina indisciplinada
Por isso, a filosofia incomoda, pois ela questiona o modo de ser das pessoas, das sociedades, do mundo. Discute as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não há área onde ela não se meta, não indague, não perturbe. E, nesse sentido, a filosofia pode ser perigosa ou subversiva, pois pode virar a ordem estabelecida de cabeça para baixo.

Quando surgiu entre os gregos, no século 6 a.C., a filosofia englobava tanto a indagação filosófica propriamente dita, quanto aquilo que hoje é chamado de conhecimento científico. O filósofo refletia e teorizava sobre todos os assuntos, procurando responder não só ao porquê das coisas, mas, também, ao como, ou seja, ao modo pelo qual elas acontecem ou "funcionam".

Euclides, Tales e Pitágoras, por exemplo, foram filósofos que também se dedicaram ao estudo da geometria. Aristóteles, por sua vez, investigou problemas físicos e astronômicos, na medida em que esses problemas também interessavam à cultura e à sociedade de sua época.
O saber científico
Só a partir do século 17, com o aperfeiçoamento do método científico - baseado na observação, na experimentação e matematização dos resultados -, a ciência tal qual a entendemos hoje começou a se constituir, como uma forma específica de abordagem do real que se destacava ou desprendia da filosofia propriamente dita.

Afastando-se da filosofia por se tornarem mais específicas, apareceram pouco a pouco as ciências particulares, que investigam determinados aspectos da realidade: à física interessam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações das substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana; à sociologia, a organização social, etc.

O conhecimento fragmenta-se entre as várias ciências, pois cada uma se ocupa somente de uma parte do real. Estudam os fenômenos que pertencem à sua área específica e pretendem mostrar como estes ocorrem e como se relacionam com outros fenômenos. A posse do conhecimento sobre os fenômenos naturais e humanos gera a possibilidade de prevê-los e controlá-los.
Integração e totalidade
Por outro lado, a filosofia trata dessa mesma realidade, só que - em vez de separá-la em conhecimentos particulares e estanques - considera-a no interior da totalidade de fenômenos, ou seja, procura enxergar a realidade a partir de uma visão de conjunto. Qualquer que seja o problema, a reflexão filosófica considera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto dentro do qual ele se insere e restabelecendo a integridade do universo humano.

Sob o ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar os problemas econômicos do Brasil somente a partir de princípios de economia. É necessário relacioná-la com os interesses das diversas classes sociais, os interesses políticos, os interesses nacionais, etc.

Um país economicamente instável é um país política e socialmente instável. Já para a ciência econômica, estrito senso, isso não vem ao caso. Seu foco é verificar como a inflação ou a recessão funciona para poder controlá-la, independentemente dos reflexos que esse controle tenha para a sociedade. (Evidentemente, estamos falando das coisas teoricamente, e portanto podemos isolá-las. Na prática, nem sempre é assim que isso ocorre. O alemão Karl Marx fez da economia um elemento essencial de sua doutrina filosófica).
Perguntas e mais perguntas
Por isso, sem desmerecer o conhecimento especializado das várias ciências, a reflexão filosófica é sempre - mais do que necessária - obrigatória. Cabe ao filósofo refletir sobre o que é ciência, o que é método científico, qual a sua validade e seus limites.

A ciência é realmente um conhecimento objetivo? O que é a objetividade e até que ponto um sujeito histórico - o cientista - pode ser objetivo, isto é, isento de interesses pessoais? Cabe ao filósofo, também, refletir sobre a condição humana atual: o que é o homem? O que é liberdade? O que é trabalho? Quais as relações entre homem e trabalho? É possível existir uma outra ordem social?

A própria escola é alvo de reflexão filosófica. A educação pressupõe uma visão do homem como um ser incompleto, que pode ser aprimorado, educado, ao contrário dos animais, que não precisam ser educados, pois orientam-se pelos instintos. Só os educamos, ou domesticamos, para acomodá-los às nossas necessidades humanas.

O caso dos homens é diferente, sem dúvida, mas, para que o ser humano é educado? Para o exercício da liberdade e da responsabilidade ou só para se inserir na ordem estabelecida? Em outras palavras, a educação ocorre para cada homem saber pensar por si próprio ou para aceitar as regras que outros pensaram para ele?

A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A filosofia emite juízos de valor ao julgar cada fato, cada ação em relação ao todo. A filosofia vai além daquilo que é, para propor como poderia ser. E, portanto, indispensável para a vida de todos nós, que desejamos ser seres humanos completos, cidadãos livres e responsáveis por nossas escolhas.
Características do pensamento filosófico
O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus significados mais profundos. Porém, como se faz isso?

Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que é reflexão. Refletir é pensar, considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a reflexão do filósofo também deixa ver, revela, mostra, traduz os valores envolvidos nas coisas, nos acontecimentos e nas ações humanas.

Para chegar a isso, segundo o filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão filosófica deve possuir as seguintes características:
• Radicalidade - ou seja, chegar até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus fundamentos; à sua origem, não só cronológica, mas no sentido de chegar aos valores originais que possibilitaram o fato. A reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão em profundidade.
• Rigor - isto é, seguir um método adequado ao objeto em estudo, com todo o rigor, colocando em questão as respostas mais superficiais, comuns à sabedoria popular e a algumas generalizações científicas apressadas.
• Contextualidade - como já se disse antes, a filosofia não considera os problemas isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores que estão relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas tanto verticalmente, dentro do desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, relacionando-os a outros aspectos da situação da época.


Assim, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas, dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores, o processo do filosofar será sempre marcado por essas características, resultando em uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
Pragmatismo (1)
Uma filosofia para a vida
José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Para Peirce, conceito consiste nas conseqüências práticas de sua aplicação
Quem já teve aquela sensação de, ao ler um livro de filosofia ou ouvir um político discursando, se perguntar: "mas o que isso quer dizer?" Por que as crianças aprendem menos com sermões do que imitando as ações dos pais? E por que é tão importante revermos nossas crenças a respeito do que acreditamos ser verdade? Se tudo o que nos interessa é o que afeta nossas vidas, é neste tribunal do cotidiano que o método pragmatista vai julgar e depurar a filosofia.

O pragmatismo, desenvolvido no século 19 por um grupo de filósofos norte-americanos em Cambridge, Massachusetts, é uma corrente da filosofia muito estudada até hoje em diversos países, incluindo o Brasil. Talvez o correto seria falar em pragmatismos, no plural, dadas as nuances com que diferentes autores trataram o termo, desde os clássicos (Charles S. Peirce, William James, John Dewey e Ferdinand Schiller) até os contemporâneos (Lewis, Quine, Putnam, Davidson e Richard Rorty, entre outros).

Em sua formulação original, feita por Charles Sanders Peirce (1839-1914) em 1877-78 e reformulada em 1905, o pragmatismo é um método filosófico cuja máxima sustenta que o significado de um conceito (uma palavra, uma frase, um texto ou um discurso) consiste nas conseqüências práticas concebíveis de sua aplicação.
Conceito e experiência
Isto quer dizer que uma afirmação que não tenha qualquer relação com a experiência é desprovida de sentido. Por conta disso, o pragmatismo presta contas ao filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que dizia (na "Crítica da Razão Pura") que, se por um lado toda experiência sem a forma do conceito é cega, o conceito sem o conteúdo da experiência é vazio.

Por exemplo, se eu digo "Pedro é honesto", isso só terá sentido se for possível, observando o comportamento futuro de Pedro, comprovar a honestidade por meio das atitudes de Pedro. Caso contrário, o máximo que poderíamos dizer é que "Pedro tem sido honesto (até hoje)". Mas o que nos interessa é o futuro, sobre o qual podemos deliberar. Deste modo, a crença que temos a respeito da honestidade de Pedro deve se fundamentar em fatos possíveis de serem observados.

E é por esta razão que só podemos conhecer realmente uma pessoa, amigo, parente ou amante no curso do tempo e por intermédio de suas ações.
Crianças e políticos
As crianças são, de certo modo, pragmatistas. Elas só aprendem investigando atentamente o que os pais fazem no dia-a-dia. Não adianta falar para uma criança que jogar papel na rua é errado se o pai atira o maço de cigarros vazio pela janela do carro. Haverá um desacordo entre teoria e prática que irá deslegitimar o discurso paterno.

Com o tempo, porém, nos tornamos menos atentos a isso e ficamos deslumbrados com programas ideológicos e doutrinas vazias de significado.

Promessas de campanha e compromissos éticos de políticos deveriam passar pelo mesmo crivo. Só terão algum significado quando confrontados com seus efeitos práticos concebíveis, isto é, caso haja dinheiro em caixa que torne possível a concretização das promessas e caso o governo tenha transparência suficiente para por à prova sua postura ética.

Assim, o pragmatismo, conforme concebido originalmente por Peirce, tem o propósito de fornecer uma diretriz ao pensamento, evitando que a razão, em seus altos vôos rumo ao abstrato, se desvencilhe de seu objeto: a realidade, a vida. O método pragmatista, desta forma, se contrapõe às metafísicas de caráter dogmático e propõe que o raciocínio seja guiado por métodos semelhantes aos da ciência, que incluem a observação dos fenômenos, a formulação de hipóteses, os testes práticos e a revisão de teorias. É por isso que o pragmatismo estranha qualquer idéia de verdade e certeza inatas ou absolutas.
Verdades provisórias
Opondo-se a René Descartes (1596-1650), que concebia o homem como dotado de idéias claras e distintas, para Peirce não temos nenhuma segurança de que nossas representações da realidade estão corretas. O máximo que podemos dizer é que funcionam e que, a longo prazo, nos aproximamos mais da verdade, na medida em que confrontamos a teoria com o objeto.

É o que Peirce chamava de doutrina do falibilismo. É impossível saber se atingimos a verdade última a respeito de algo. Contamos apenas com um conhecimento provisório e falível. Por exemplo, a visão do homem a respeito do universo se modificou ao longo dos séculos, nos quais os instrumentos técnicos foram aperfeiçoados e o gênio matemático, testado. De Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein, sabemos muito mais hoje sobre o universo do que os antigos povos da Grécia, China e Mesopotâmia, mas nada nos garante que tenhamos chegado a uma incompatibilidade insuperável entre a teoria da Relatividade e a mecânica quântica, que descrevem, respectivamente, o macro e o microcosmo.

E também é assim com nossos valores. Afinal, não somos obrigados a reavaliar todos nossos parâmetros culturais em face das mudanças tecnológicas e o fenômeno da globalização?

O falibilismo, portanto, é uma condição de humildade intelectual, que nos obriga a uma aprendizagem constante e evita que nos enclausuremos em crenças e verdades últimas. Como o pragmatismo sugere, é necessário contrapor aos conceitos o objeto real para construir significados, caso contrário, corre-se o risco de naufrágio em um redemoinho de palavras sem qualquer âncora na terra firme da experiência.
Filosofia sem concessões
E qual garantia o pragmatismo nos dá de que aprendemos com os erros, de que iremos atingir a verdade ou, quem sabe, a segurança de uma certeza qualquer? Para Peirce, nenhuma. Só podemos ter esperança de que, com uma boa educação, nossos filhos serão melhores. Do mesmo modo, aprendemos a duras custas que não existem soluções prontas para a democracia no Brasil. Ela se faz de maneira conjunta e cotidiana.

O que valida uma crença, segundo o pragmatismo clássico, não são seus ornamentos argumentativos ou o conforto que nos traz ao tornar aprazível e suportável a realidade. Mas sim, seus efeitos práticos concebíveis e a experiência futura, que irá confirmá-la ou não. Ao nos devolver teimosamente à mesma realidade, por vezes tediosa e angustiante, da qual tentamos escapar por meio de filosofias baratas, dogmas e auto-ajuda, o pragmatismo só pode oferecer em troca uma existência mais criativa, num oceano de possibilidades.
Estado moderno
Explicações filosóficas sobre a origem do poder
Antonio Carlos Olivieri*
Da Página 3 - Pedagogia & Comunicação

Nicolau Maquiavel
Uma nova realidade histórica caracterizou o Renascimento: o desenvolvimento das cidades, o fortalecimento da burguesia mercantil e a formação das monarquias nacionais. Esses são aspectos interligados de uma sociedade diferente daquela da Idade Média, de um mundo novo, que passou a exigir novos instrumentos teóricos para tornar possível a sua interpretação.

O nome do pensador e político italiano Nicolau Maquiavel destaca-se indiscutivelmente na elaboração de uma moderna concepção de política. Na verdade, ele é o responsável pela autonomia da ciência política, pois deixou de lado as preocupações predominantemente filosóficas da política normativa da Antiguidade e, ao mesmo tempo, desvinculou-as da fé e da moral cristã da Idade Média. Sua obra política, enfim, trata "das condições nas quais se vive e não das condições segundo as quais se deve viver".

A reflexão política tradicional, herdada da filosofia grega, buscava descrever, em termos ideais, o bom governo. Pretendia apresentar as regras a serem obedecidas por um governante ideal para atingi-lo. Maquiavel constata, com uma objetividade implacável, como os homens governam de fato. A partir disso, ele reconhece que, na política, prevalece a lógica da força. Portanto, considera impossível o exercício do poder sem recorrer, em maior ou menor grau, à violência.
Os fins e os meios
Em uma célebre máxima, Maquiavel afirma que "os fins justificam os meios". Ou seja, pouco importa que - para construir uma sociedade justa - um governante recorra aos métodos mais criminosos que se possam imaginar. Os resultados dessa mentalidade maquiavélica, historicamente, só serviram para justificar atrocidades.




Josef Stálin

Os partidários do líder soviético Josef Stálin, por exemplo, consideravam totalmente justificável o fato de ele ter condenado à morte centenas de milhares de camponeses que resistiram ao seu projeto de coletivização da agricultura, na Rússia dos anos 1930. Fazendo eco ao pensador florentino, eles diziam que a política não se relaciona com as utopias e as abstrações, mas com a correlação de forças em circunstâncias concretas. Para vencer e se impor, é preciso esquecer os valores morais. A moral - que vale para regular as condutas individuais - não se aplica à ação política, que trata do destino da sociedade.

Na verdade, essa concepção de política que deixa de lado as considerações morais indica o surgimento de uma nova ordem social. Essa ordem, agora, é temporal, mundana, a ser administrada pelo Estado. De fato, naquele momento histórico, o feudalismo desmoronava, dando lugar às monarquias nacionais. Por isso, era necessária uma teoria que justificasse o fortalecimento do Estado soberano e secular.
Fazer leis e recolher impostos
É comum utilizar a palavra Estado para designar as instituições políticas da Antiguidade e Idade Média, mas, a rigor, trata-se de uma impropriedade. O conceito de Estado - conforme é compreendido hoje - só começou a ser empregado no Renascimento e na Idade Moderna. Aproximadamente a partir do século 16, o termo Estado passa a designar uma realidade nova, que abrange um território cujos habitantes são governados por um poder central. Identifica-se, também, com a própria organização sociopolítica desse território.

Portanto, cabe ao Estado fazer e aplicar as leis, recolher impostos, manter um exército que proteja seu território. Trata-se de atribuições que, na Idade Média, estavam pulverizadas nos vários feudos, onde eram exercidas pelos nobres que eram seus proprietários. Gradativamente, o Estado monopolizou os serviços essenciais para garantia da ordem em seu interior e exterior. Isso exigiu o desenvolvimento de uma máquina administrativa, uma burocracia, formada por funcionários ou servidores públicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário